• Título: Os Lança-Chamas
  • Título Original: The Flamethrowers
  • Autor(a): Rachel Kushner
  • Gênero: Drama
  • Ano de Publicação: 2014
  • Ano de Publicação Original: 2013
  • Editora: Intrínseca
  • Número de Páginas: 368
  • País: EUA
  • Tradução: Claudio Carina
  • Avaliação: 4.17/5.00

Introdução

Publicado em 2013, Os Lança-Chamas (The Flamethrowers) é um romance literário da escritora norte-americana Rachel Kushner. A obra, que transita entre o efervescente mundo da arte contemporânea e a turbulência política dos anos 1970, foi amplamente elogiada pela crítica e figurou entre os finalistas do National Book Award. Com uma narrativa vibrante e uma protagonista introspectiva, Kushner conduz o leitor por uma jornada de autodescoberta e desilusão, onde arte, velocidade e revolução se entrelaçam de maneira visceral.

| Uma história de velocidade e arte, onde a liberdade e a traição são faces da mesma moeda.


Sobre a Autora

Rachel Kushner nasceu nos Estados Unidos e se destacou na literatura contemporânea por suas narrativas que exploram contextos históricos, políticos e sociais de maneira profunda. Seu romance de estreia, Telex de Cuba (2008), já demonstrava sua habilidade em entrelaçar história e ficção. Os Lança-Chamas consolidou sua reputação, sendo seguido por The Mars Room (2018), uma crítica ao sistema prisional dos EUA. Sua escrita carrega influências de autores como Don DeLillo e Roberto Bolaño, especialmente no uso de uma prosa altamente visual e reflexiva.


Personagens e Trama

A protagonista, conhecida apenas como Reno, é uma jovem artista fascinada por velocidade e pelo potencial estético das motocicletas. Ao se mudar para Nova York em 1975, ela se envolve com Sandro Valera, um artista conceitual pertencente a uma família aristocrática italiana, proprietária de uma das maiores fábricas de pneus e motocicletas do mundo.

A relação entre Reno e Sandro é marcadamente desigual. Enquanto ela busca afirmação como artista em um meio dominado por homens, Sandro a trata como uma musa, sem reconhecer plenamente seu talento. A relação deles é atravessada por uma dinâmica de poder, na qual Reno é tanto seduzida pelo status e sofisticação de Sandro quanto subestimada por ele.

A virada na trama acontece quando Reno acompanha Sandro para a Itália, onde ela se vê imersa nas tensões políticas do país, marcado por movimentos operários e a ascensão de grupos radicais como as Brigadas Vermelhas. Sua posição se torna ainda mais incômoda quando Sandro a trai com uma mulher de sua classe social, revelando sua indiferença em relação aos sentimentos de Reno.


Ambientação

A narrativa transita entre a Nova York underground dos anos 1970 e a Itália convulsionada por greves e protestos. Enquanto Nova York é retratada como um epicentro da arte contemporânea e experimentação cultural, a Itália é apresentada como um país em chamas, com a classe operária lutando contra as grandes corporações e a repressão estatal. Esse contraste não só influencia o desenvolvimento de Reno, mas também a obriga a confrontar seu próprio privilégio e sua alienação em relação às questões políticas.


Política e Revolução

Ao chegar na Itália, Reno testemunha a mobilização dos trabalhadores contra a fábrica da família Valera. Em meio a essa luta, ela começa a perceber as contradições da sociedade e seu próprio papel dentro dela. O romance faz um retrato crítico do capitalismo, explorando como a arte pode ser cooptada por interesses comerciais e como os movimentos revolucionários são vistos pelas elites.

A trama se intensifica quando o irmão de Sandro, Roberto Valera, é capturado por grupos militantes. Reno se vê presa entre duas forças: de um lado, sua lealdade a Sandro e sua família industrialista; do outro, sua crescente simpatia pelas causas revolucionárias. Essa tensão culmina em uma série de eventos que colocam em xeque sua própria posição no mundo.


Gênero e Temas

“Os Lança-Chamas” é um romance literário que aborda temas como feminismo, arte de vanguarda, política radical, identidade e a busca por propósito. A obra explora questões filosóficas sobre a relação entre arte e vida, além de críticas sociais relacionadas ao machismo e elitismo presentes na sociedade da época.


Recomendado para quem?

O livro é indicado para leitores interessados em ficção literária que aborda arte, política e questões sociais, especialmente aqueles que apreciam narrativas ambientadas nos anos 1970.

Leitores que apreciam romances literários densos, narrativas reflexivas sobre arte e política e livros como Submundo de Don DeLillo ou Liberdade de Jonathan Franzen encontrarão muito o que explorar em Os Lança-Chamas.


Recepção e Crítica

“Os Lança-Chamas” foi amplamente aclamado pela crítica, sendo finalista do National Book Award em 2013. A obra foi elogiada por sua narrativa envolvente e personagens complexos.


O Significado do Título “Os Lança-Chamas”

O título Os Lança-Chamas tem múltiplas camadas de significado dentro do romance. Primeiramente, faz alusão às motocicletas de alta velocidade que Reno admira e pilota, que são frequentemente descritas como máquinas poderosas e destrutivas, evocando a imagem de algo incendiário. Em um sentido figurado, o título também representa os personagens e eventos que incendeiam a vida de Reno, desde seu envolvimento com o mundo da arte até sua imersão nos conflitos políticos na Itália.

Além disso, “lança-chamas” simboliza as forças revolucionárias e destrutivas em ação no período retratado, remetendo diretamente aos protestos, à violência dos movimentos radicais e à destruição das velhas estruturas sociais. O nome carrega um duplo sentido: tanto o potencial libertador da revolução quanto sua natureza destrutiva, assim como a trajetória de Reno, que a impulsiona para um caminho de autodescoberta, mas também de perda e desilusão.

Reno e Sandro Valera

Desenvolvimento e Conclusão

A traição de Sandro marca um ponto de inflexão para Reno. Sua desilusão com ele simboliza uma ruptura maior: a compreensão de que sempre esteve à margem, tanto no relacionamento quanto no cenário político. O abandono de Sandro a leva a se envolver ainda mais com as forças revolucionárias, e sua última decisão no romance levanta questões sobre responsabilidade e cumplicidade.

A conclusão é ambígua e deixa a interpretação aberta para o leitor. Reno não emerge como uma heroína, mas como uma figura que tentou encontrar seu lugar em um mundo em colapso. A pergunta final que o livro nos deixa é: até que ponto somos responsáveis pelas estruturas às quais pertencemos?


Análise do Final – Sem Spoilers

O desfecho de “Os Lança-Chamas” é coerente com a jornada de Reno, oferecendo uma conclusão que reflete sobre as escolhas e transformações da protagonista. Embora não seja convencional, o final deixa espaço para interpretações, convidando o leitor a refletir sobre os temas abordados ao longo da narrativa

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